ATÉ QUANDO: EM MEMÓRIA DE CHRISTINA MACIEL OLIVEIRA

Com o coração atravessado pela dor e a alma tomada pela revolta, recebemos a notícia do assassinato brutal de nossa companheira de luta Christina Maciel Oliveira. “Chris”, como era carinhosamente chamada por todos nós, era uma mulher trans que atuava enquanto mobilizadora socioassistencial no Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA), e dedicava sua vida caminhando ao lado da população LGBTQIAPN+ em situação de rua, tecendo redes de cuidado e dignidade onde muitos enxergavam apenas invisibilidade.

O crime aconteceu sob a luz do dia 20 de outubro, no coração da capital mineira, diante dos olhos de dezenas de transeuntes que testemunharam o fim brutal de uma vida após uma discussão com o companheiro de Cris. Minas Gerais ocupa o segundo lugar no ranking nacional de assassinatos de pessoas trans, com 12 mortes registradas em 2024, e o Brasil permanece, pelo 16º ano consecutivo, como o país que mais assassina pessoas trans no mundo.

Estes números desenham o retrato cruel de uma sociedade ainda corroída pela transfobia, pela homofobia, pela violência estrutural e pelo machismo — uma psicopatia coletiva de ódio, impunidade e indiferença que se manifesta no desrespeito à diversidade e no desprezo pela vida.

Chris teve sua existência interrompida exatamente pela violência que ela denunciava todos os dias: a agressão física e moral contra os corpos de pessoas de gênero diverso. Seu grito ainda ecoa em nossos ouvidos e sacode nossas consciências: “até quando vamos contar mortes?”
Que seu legado — de resistência e superação diante de todas as formas de marginalização — permaneça vivo como um chamado urgente à toda sociedade. Um convite inadiável para o fortalecimento das políticas de inclusão, dos direitos humanos e do atendimento humanizado a uma população que a sociedade insiste em empurrar para as margens. Conclamamos todas as pessoas, todas as organizações de base, para que se unam a nós por ações mais efetivas e coletivas, para que não permitamos que a morte de Chris e de tantas outras seja silenciada.

Neste momento de luto profundo, reverenciamos a memória subversiva e luminosa de Chris — educadora e mobilizadora popular que tanto fez para conduzir outras vidas rumo a um novo roteiro de cidadania e consciência de direitos. Por nos ensinar, com a força de sua existência, que a diversidade e o respeito são o único caminho para construir uma sociedade verdadeiramente justa e fraterna. Seguiremos seu legado ampliando nossa missão, honrando seu sonho de um mundo novo, onde todas as vidas importem.

A seus familiares, colegas do projeto Ecossistema Solidário e entidades parceiras, nossa solidariedade mais profunda.
Nenhuma vida a menos.
CHRIS PRESENTE, SEMPRE!
Diretoria e equipe do INSEA