fevereiro 18, 2019 | Nenhum Comentário |
Dados da produção indicam que a comunidade participante da coleta seletiva destina uma média de 4,4 toneladas por mês de resíduos recicláveis à Rede Lixo Zero Santa Tereza. E, no montante do ano, a coleta em Santa Tereza supera 50 toneladas. “É um ótimo saldo, mas há de considerar que é muito pouco ainda em vista do potencial do bairro”, avalia Júlia Tunes, engenheira ambiental do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA).
Ela estima que apenas 3% do potencial resíduo gerado no bairro é coletado hoje. – O cálculo é feito com base na população de 15 mil habitantes do bairro e o volume de resíduos gerado, tomando como base a renda per capta de produção de resíduos recicláveis do estado de Minas Gerais –. “O índice aponta que a participação dos moradores de Santa Tereza na coleta seletiva solidária ainda é muito pequena. Mas acreditamos que pode aumentar, na medida em que conseguirmos mais envolvimento da população”, pondera Júlia.
Outro ponto observado pela engenheira ambiental é a quantidade de rejeitos (materiais não recicláveis ou que possuem baixa reciclabilidade – quando não há mercado ou indústrias recicladoras que permitem sua comercialização) encontrada entre os resíduos coletados. Em Santa Tereza os rejeitos apresentam uma média 171 kg por mês, que representam 3,8% do total da massa coletada. Para Júlia Tunes, esse percentual é muito positivo e está bem abaixo da média estadual, que fica entre 10% e 15%, considerando a coleta seletiva feita pelas prefeituras dos municípios. “A quantidade baixa de rejeitos é um ótimo indicativo de que tanto a separação de resíduos feita na fonte geradora quanto a coleta dos catadores estão sendo feitas de forma muito eficaz”, destaca.
Os materiais recolhidos são levados para a Central de Tratamento de resíduos da COOPESOL Leste, no bairro Granja de Freitas, onde 32 cooperados atuam na triagem de materiais recicláveis. A comercialização de materiais recicláveis beneficia o meio ambiente e gera renda a milhares de famílias de catadores de Belo Horizonte.
Vilma da Silva Estevam, presidente da Coopesol, explica que a demanda da comunidade é grande, mas há uma restrição da coleta seletiva no bairro Santa Tereza devido à falta de investimentos e apoio para a ampliação. “O saldo da coleta seletiva em Santa Tereza é muito positivo, considerando que é feita de forma independente e autogerida, sem participação do poder público e sem remuneração do serviço. A Coopesol Leste arca com os custos e ganha na venda de materiais, que nem sempre é suficiente para cobrir as despesas. Nosso maior desafio é, portanto, garantir recursos para dar continuidade ao trabalho de forma mais justa com os trabalhadores, fazer novas mobilizações para ampliação da rota e do projeto lixo zero, que vai além da coleta seletiva solidária, passando por recuperação de roupas, móveis, oficinas de restauração, ações de educação ambiental e formação de parcerias contínuas”, explica Vilma.
Diálogos com a Prefeitura e Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) vêm sido feitos constantemente, na tentativa de obter subsídio para a ampliação da rota de coleta e de ações do programa, que atualmente funciona em versão piloto, mas pretende tornar Santa Tereza o primeiro bairro Lixo Zero do Brasil e difundir a iniciativa para outros bairros e cidades.
Coleta de orgânicos na Feira Terra Viva: participantes levam seus baldinhos com os resíduos, que são tratados, e recebem parte dos resultados.
A coleta de resíduos orgânicos gerados nas residências do bairro Santa Tereza é feita por meio do programa Vida Composta, realizado pelo coletivo Roots Ativa, que é parceiro da Rede Lixo Zero Santa Tereza. Para participar, o associado compra um baldinho, leva para casa e condiciona nele resíduos orgânicos como cascas de frutas, legumes e restos de comida, fazendo uma contribuição a partir de R$ 30 por mês para custeio da técnica de compostagem.
O projeto foi inaugurado no final de março de 2018, abrindo ponto de coleta na Feira Terra Viva (Rua Pouso Alegre, 1911), às terças e sextas-feiras pela manhã. De acordo com o coordenador, Thiago Lopes, atualmente 37 famílias participam do Vida Composta e o saldo gira em torno de 1.500 kg/mês de resíduos orgânicos processados. No acumulado entre abril e dezembro de 2018, mais de dez toneladas de material orgânico foi recuperado, por meio da compostagem, que gera produtos como adubos e fertilizantes orgânicos.
A Rede Lixo Zero Santa Tereza é formada pela cooperativa de catadores Coopesol Leste, o coletivo Roots Ativa, o Observatório da Reciclagem Inclusiva (ORIS) – que reúne instituições de ensino, pesquisa e assessoria técnica acerca da reciclagem, entre elas o INSEA – e atua junto a moradores, escolas, comércios, associação e movimentos do bairro Santa Tereza, com o propósito de conscientizar a população para a importância da coleta seletiva solidária e de minimizar a quantidade de resíduos enviados aos aterros sanitários e lixões.
Trata-se de um conjunto de estratégias e ações para afirmar que é possível eliminar a geração de lixo, em prol da vida e do desenvolvimento sustentável. A ideia propõe um novo olhar sobre aquilo que descartamos no dia a dia, mostrando que quase tudo é passível de ser reaproveitado ou ganhar nova função.
Grandes mudanças começam dentro de casa – Estudos que fundamentam o programa Lixo Zero defendem que 90% do lixo doméstico têm potencial de reaproveitamento e apenas 10% deveria ser descartado. Pratique separação de resíduos e contribua para a preservação do meio ambiente!
Coleta seletiva solidária => INSEA – Fone: (31) 3295-7270.
Acesse: RedeLixoZeroSantaTereza
Vida Composta (orgânicos) => Spira Lixo – (31) 99266-9136.
Acesse: Spiralixo
Reportagem: Brígida Alvim
Foto de capa: Júlia Duarte / Santa Tereza Tem
A dedicação e empenho dessas instituições, tornaram possíveis a produção e continuidade dos projetos desenvolvidos pelo INSEA.